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07 de June de 2022
Lembrança de uma das primeiras grandes exposições feitas pela SOS Mata Atlântinca (Foto: Arquivo pessoal de Clayton Lino)
Com o amigo, Scala, em uma de nossas explorações pelas cavernas brasileiras (Foto: Arquivo pessoal de Clayton Lino)
Manifestação pela proteção das cavernas, em frente ao STF, após o 36º Congresso Brasileiro de Espeleologia (Foto: Arquivo pessoal de Clayton Lino)
Um pequeno Bem-te-vi no Parque das Dunas, em Salvador. (Foto: Arquivo pessoal de Clayton Lino)
Como presidente do Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica no evento da Semana do Meio Ambiente na Secretaria de Meio Ambiente do estado de São Paulo (Foto: Arquivo Pessoal de Clayton Lino)
- A gente mora dentro da Mata Atlântica. Consumimos e comemos muitos produtos desse bioma. Qual a importância, em termos de mobilização, de se falar também dessa economia da Mata Atlântica?
Existe uma enorme economia da Mata Atlântica. Primeiro temos que lembrar que esse é o bioma onde vivem 2/3 da população brasileira. Tivemos uma história predatória como poucos biomas no mundo. Mesmo assim, temos uma incrível biodiversidade no que sobrou da floresta, incluindo muitos produtos nativos de grande interesse econômico - como a erva mate, caju, pinhão, palmitos, inúmeras fibras, plantas medicinais, plantas ornamentais etc.
A erva mate, por exemplo, é nativa da Mata Atlântica. Mais de 450 municípios têm essa espécie dentre as suas maiores fontes de renda. A cadeia direta e indireta gera cerca de 600 mil empregos. É o mesmo que a indústria automobilística brasileira em termos de número de empregos. E melhor distribuídos.
Temos o pinhão, a carqueja, o gengibre brasileiro, a espinheira santa. Várias espécies no campo dos fitoterápicos e de cosméticos. Mas a maioria delas são pouco exploradas de forma planejada e acaba acontecendo uma extração predatória porque não se apoiou adequadamente esse desenvolvimento. É preciso mais pesquisa, apoio para o desenvolvimento, às vezes investimento em melhoramento genético. Nós temos aí aspectos culturais, aspectos de pesquisa e de economia a serem melhor articulados. Se bem manejadas geram riqueza sustentável para comunidades locais e para o país como um todo.
Temos paisagens deslumbrantes e culturas associadas com grande uso e potencial turístico. Temos água e imensuráveis serviços ambientais que sustentam nossas cidades, indústrias, agricultura, produção de energia e outras necessidades da nossa população. Essa economia da floresta em pé tem que ser reconhecida e valorizada. Esse é o foco, por exemplo, dos Programas Mercado Mata Atlântica, Turismo Sustentável e Ativos Ambientais da Reserva da Biosfera.
Na atual crise climática, o maior potencial do Brasil cumprir com suas obrigações de reduzir emissões está no controle das queimadas e desmatamento na Amazônia, mas o maior potencial de retirada de CO2 da atmosfera gerando muitos recursos financeiros com o novo Mercado de Carbono está na restauração da Mata Atlântica. E a cadeia de restauração pode gerar muitos milhares de empregos e renda em todo o território. A conservação, o bom manejo e a restauração de nossa natureza deveriam ser um dos principais pilares da economia para o Brasil.
E precisamos lembrar que mais de 80% da área da Mata Atlântica remanescente está em terras privadas. Então, é preciso também engajar os proprietários rurais no bom manejo dos recursos naturais e na sua conservação. Um bom exemplo disso são inúmeras reservas particulares, as RPPNs, existentes da Mata Atlântica.
Participei da criação da figura das RPPNs em 1990. Na elaboração da lei do SNUC (Sistema Nacional de Unidades de Conservação), colocamos as RPPNs no grupo de unidades de uso sustentável. Originalmente, havia um artigo que citava que poderia haver exploração e manejo de recursos florestais não madeireiros, desde que dentro de um plano de manejo aprovado. Só que quando essa legislação foi para sanção presidencial, essa parte foi vetada, aprovaram só proteção integral. E o que restou foi uma situação esquizofrênica no caso das RPPNs, que são classificadas como de uso sustentável, mas o único uso sustentável possível com potencial retorno econômico por lei nessas reservas é o turismo.
Eu sempre digo que não quero ver a criação da associação dos RPPNistas arrependidos, ou filhos e netos com raiva dos avós RPPNistas. Porque é difícil manter uma área com essas características. Não basta paixão. A paixão está lá, a criação de uma RPPN é uma prova de amor. É totalmente voluntária. A pessoa faz porque acredita, quer dar sua contribuição, deixar um legado que é perpétuo. Algumas dessas áreas têm paisagens, cachoeiras, trilhas que podem ser exploradas de algum modo em atividades turísticas. Mas outras não e, no entanto, são importantíssimas por terem uma flora e fauna específica, uma paisagem especial, ou por serem anteparo no entorno das unidades de conservação de proteção integral. Precisamos apoiar concretamente as RPPNs para que elas se mantenham e sejam mecanismos efetivos também no desenvolvimento sustentável.
As possibilidades de uso sustentável são grandes, mas isso não está na lei das RPPNs. É possível trabalhar com produção de sementes, de mudas, plantas medicinais, plantas ornamentais, frutos, castanhas, mel, e assim por diante. Há um campo enorme para explorar a economia da Mata Atlântica.
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Campanha pela defesa do Código Florestal, em 2012, durante o Viva a Mata, no Ibirapuera (Foto: Arquivo pessoal de Clayton Lino)
Por último, eu gostaria de reforçar a necessidade de que, na luta pela Mata Atlântica e demais ecossistemas brasileiros, dentre nossas prioridades esteja, com destaque, o engajamento dos jovens, a defesa de nossa democracia, da sustentabilidade, da equidade e da inclusão, contribuindo para a retomada do protagonismo ambiental de nosso país. Só assim teremos um futuro que vale a pena.