Atlas da Mata Atlântica

Identificar, monitorar e manter atualizada a situação dos remanescentes florestais e áreas naturais
da Mata Atlântica é a principal missão do Atlas da Mata Atlântica

O Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica é uma colaboração entre a Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) que monitora a vegetação nativa do bioma desde 1989.

A edição mais recente (18ª) foi lançada em maio de 2023 e identificou uma perda de 20.075 hectares (medida equivalente a mais de 20 mil campos de futebol) de florestas nativas no período observado (2021-2022). Contou com o patrocínio do Bradesco e da Fundação Hempel e apoio técnico da Arcplan.

Embora esse número represente uma redução de 7% em relação ao detectado em 2020-2021 (21.642 hectares), a área desmatada é a segunda maior dos últimos 6 anos e está 76% acima do valor mais baixo já registrado na série histórica – de 11.399 hectares, entre 2017 e 2018.

O relatório anual é uma referência no conhecimento sobre o desmatamento da Mata Atlântica e tem contribuído ao longo de suas edições na identificação das regiões mais críticas –, mais devastadas e mais ameaçadas –, à pesquisa e ao conhecimento, bem como para a atuação dos órgãos ambientais e Ministérios Públicos dos 17 estados abrangidos pelo bioma.

O Atlas monitora, atualmente, fragmentos florestais mais preservados, maiores que 3 hectares, com dossel de copas fechado e sem sinais de degradação –, como estradas e solo exposto –, a partir de interpretação visual de imagens de satélite Landsat. Estes são os fragmentos considerados em melhor estado de conservação ou florestas mais maduras, com maior biodiversidade e estoque de carbono.

O Atlas passou por inúmeros aprimoramentos ao longo dos anos, acompanhando a evolução tecnológica, e desde 2010 mantém uma base de mapeamento  fixa para monitorar os fragmentos florestais com esta característica. E, em quatro estados (SP, RJ, PR e SC) identifica fragmentos florestais e desmatamentos maiores que 1 hectare.

Por meio das informações geradas no Atlas, a Fundação SOS Mata Atlântica espera contribuir com o conhecimento necessário para subsidiar estratégias e ações e políticas públicas de conservação e restauração do bioma – considerado um dos mais ricos em biodiversidade e um dos mais amaçados também. Embora o Atlas não tenha o propósito de investigar a legalidade dos desmatamentos detectados, os dados são fornecidos a autoridades públicas para que tomem as medidas de fiscalização necessária, em consonância às normas da Lei da Mata Atlântica.

Nunca é demais recordar que este é o único bioma brasileiro protegido por uma lei especial, a Lei da Mata Atlântica, e o primeiro a ser monitorado por imagens de satélite desde o lançamento do Atlas dos Remanescentes Florestais. Pela importância da Mata Atlântica, devemos garantir a proteção e o desmatamento zero das florestas nativas e incentivar a sua conexão com a restauração da mata.

A recuperação de áreas florestais é fundamental para o bioma e para mitigarmos as mudanças climáticas. Iniciativas internacionais já apontam a Mata Atlântica como uma das prioridades mundiais para restauração florestal, combinando sequestro de carbono e proteção da biodiversidade e da água. Assim, também em consonância com a Década de Restauração dos Ecossistemas da ONU, a Fundação SOS Mata Atlântica promove uma série de esforços e iniciativas que visam recuperar a floresta, em parceria com empresas engajadas e comprometidas.

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Entre os meses de outubro de 2021 e de 2022, a Fundação SOS Mata Atlântica e o INPE observaram o desflorestamento de 20.075 hectares (ha) do bioma, o correspondente a mais de 20 mil campos de futebol de futebol em um ano ou um Parque Ibirapuera (SP) desmatados a cada três dias. Como resultado, foram lançados 9,6 milhões de toneladas de CO2 equivalente na atmosfera.

Embora esse número represente uma redução de 7% em relação ao detectado em 2020-2021 (21.642 hectares), a área desmatada é a segunda maior dos últimos 6 anos e está 76% acima do valor mais baixo já registrado na série histórica – de 11.399 hectares, entre 2017 e 2018.

Cinco estados acumulam 91% do desflorestamento: Minas Gerais (7.456 ha), Bahia (5.719 ha), Paraná (2.883 ha), Mato Grosso do Sul (1.115 ha) e Santa Catarina (1.041 ha). Enquanto oito registraram aumento (Alagoas, Bahia, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Sergipe), nove mostraram redução (Ceará, Goiânia, Mato Grosso, Pernambuco, Piauí,  Paraná, Rio Grande do Norte, Santa Catarina e São Paulo).

No que se refere aos municípios, dez concentram 30% do desmatamento total no período. Desses, cinco estão situados em Minas Gerais, um no Mato Grosso do Sul e quatro na Bahia. Três cidades baianas encabeçam a lista: Wanderlei (com 1.254 hectares desmatados), Cotegipe (907 ha) e Baianópolis (848 ha). Em seguida vêm São João do Paraíso (MG, 544 ha), Araçuaí (MG, 470 ha), Porto Murtinho (MS, 424 ha), Francisco Sá (MG, 402 ha), Capitão Enéas (MG, 302 ha) e Gameleiras (MG, 296 ha).

Apenas 0,9% das perdas se deram em áreas protegidas, enquanto 73% ocorreram em terras privadas – reforçando que as florestas vêm sendo destruídas sobretudo para dar lugar a pastagens e culturas agrícolas. A especulação imobiliária, acima de tudo nas proximidades das grandes cidades e no litoral, também é apontada como outra das causas principais.

A proporção de áreas naturais da Mata Atlântica encontra-se abaixo do limite mínimo aceitável para sua conservação, que é, segundo estudo da revista Science, de 30%. As florestas naturais do bioma encontram-se restritas a espaços extremamente fragmentados - a maior parte não chega a 50 hectares - e, em 80% dos casos, encontram-se em propriedades privadas.

O desmatamento num contexto já inaceitável de perda da vegetação nativa da Mata Atlântica mantém o bioma em um alto grau de ameaça e risco. Esta situação está na contramão de importantes referências internacionais que apontam a Mata Atlântica como um dos biomas prioritários no mundo para ser restaurado, considerando a conservação da biodiversidade e o combate às mudanças climáticas. Ademais, a conservação e a restauração do bioma são fundamentais para garantir serviços ecossistêmicos para 70% da população e 80% da economia brasileira e combater a emergência das mudanças climáticas.

Por esta razão, a Fundação SOS Mata Atlântica entende que, mais do que interromper o desmatamento do bioma, é preciso tornar a sua recuperação uma prioridade na agenda ambiental e climática, em consonância com a Década da Restauração dos Ecossistemas da ONU e de outras iniciativas internacionais para restauração florestal.

Não. Além do Atlas da Mata Atlântica, existem o MapBiomas, o MapBiomas Alerta e o Sistema de Alertas de Desmatamento (SAD) da Mata Atlântica. Embora cada fonte possua suas peculiaridades, elas são complementares e permitem uma visão mais abrangente do bioma. Podemos dizer que elas representam lentes diferentes de análise, mas são todas igualmente necessárias para uma compressão real do bioma.

Entenda sobre as características de cada fonte abaixo.

MapBiomas é uma iniciativa colaborativa de diversas organizações, da qual a SOS Mata Atlântica faz parte, que passou a monitorar o uso e a mudança do uso da terra de todos os biomas brasileiros desde 2015, mas em séries temporais que se iniciam em imagens de satélite de 1985.  

O MapBiomas Alerta é um projeto do MapBiomas que passou a monitorar o desmatamento em todos os biomas brasileiros desde 2018.  O seu segundo relatório foi publicado em 11 de junho e identificou o preocupante aumento do desmatamento em todos os biomas brasileiros, com 13.853 km2 de perda de vegetação nativa, resultado de 74.218 alertas em 2020. O desmatamento aumentou 14% em relação a 2019. A Mata Atlântica teve uma perda total de 23.873 hectares (a partir de 3.068 alertas), com aumento de 125% em relação a 2019. A diferença dos resultados do Atlas e do MapBiomas se deve a distintas abordagens de monitoramento e a aspectos técnicos e metodológicos de cada iniciativa.

O MapBiomas produz mapas de uso e cobertura da terra identificando fragmentos maiores que meio hectare (até seis vezes menores que do Atlas), também por meio de imagens de satélite Landsat e independente do seu estado de conservação. Por meio de classificação automática, observa ainda a dinâmica de florestas jovens, não registradas pelo Atlas. Isto é, mede a regeneração ou o surgimento de novos fragmentos, assim como o corte deste tipo de vegetação. O MapBiomas Alerta utiliza alertas de desmatamento gerados pelo Global Forest Watch e pelo Atlas da SOS Mata Atlântica e INPE para validar, refinar e qualificar desmatamentos maiores que 0,3 hectares, com o uso de imagens Planet de alta resolução (4 x 4 metros).  

A área observada de cada inciativa também é diferente. O Atlas monitora a área de aplicação da Lei de Mata Atlântica, utilizando o mapa do IBGE refinado para escala 1:1.000.000. O MapBiomas utiliza o mapa de biomas gerais do Brasil, produzido pelo IBGE na escala 1:250.000. Esse mapa considera como bioma apenas áreas contínuas e os encraves florestais de Mata Atlântica do Nordeste estão incluídos nos biomas Cerrado e Caatinga. Portanto, o Atlas abrange uma área maior que o MapBiomas até o momento.    

Uma outra diferença é o período de observação, uma vez que o Atlas analisa o período de 12 meses, de outubro de um ano até setembro do ano seguinte, enquanto o MapBiomas Alerta analisa os 12 meses de um mesmo ano. Além da diferença de tamanho e conservação dos fragmentos observados e do período de observação, a última observação relevante é que, em 2020, o MapBiomas Alerta usou pela primeira vez os dados do Atlas dos Remanescentes Florestais como fonte de alerta. Isto explica parte do aumento de 2020 em relação a 2019.  

De todo modo, o MapBiomas Alerta deve estabelecer uma linha de base consistente para a análise temporal do desmatamento da Mata Atlântica daqui para a frente.  

Compreendidas as especificidades do Atlas e do MapBiomas, estas devem se complementar no monitoramento da Mata Atlântica e orientar cada vez mais na gestão e políticas para o fim do seu desmatamento e em prol da sua restauração.

O Sistema de Alertas de Desmatamento (SAD) Mata Atlântica é uma iniciativa para monitorar o desmatamento no bioma, a partir da geração de alertas de cortes de florestas identificadas por imagens de satélites em alta resolução. São monitorados desmatamentos maiores de 0,3 hectares em todos os fragmentos do bioma, disponibilizando as informações por meio do MapBiomas Alerta. Os dados do SAD Mata Atlântica são divulgados mensalmente, com a elaboração de boletins trimestrais pela SOS Mata Atlântica. Já o Atlas é lançado anualmente, compreendendo o período de 12 meses anterior. A existência de uma série histórica é importante para definição de políticas públicas para a conservação e recuperação do bioma. Clique aqui e conheça mais sobre o SAD Mata Atlântica.

Com a particularidade de cada iniciativa, chegamos aos seguintes resultados sobre a cobertura da vegetação nativa da Mata Atlântica. Pelo MapBiomas temos 24% de cobertura florestal original, somando-se todos os fragmentos jovens e maduros acima de meio hectare, independente do seu estado de conservação. Pela lente do Atlas dos Remanescente Florestais, restaram somente 12,4% da cobertura florestal original do bioma, composta por todos os fragmentos mais maduros acima de três hectares com dossel fechado ou sem degradação detectável por imagens de satélite.  

O Atlas também distingue os fragmentos maiores que 100 hectares, que são considerados os Maciços Florestais do bioma, principal hábitat para espécies raras e com maior estoque de carbono. Estes representam somente 8,5% da área florestal original do bioma. Estes são dados do país, que sintetizam a situação geral da cobertura de florestas do bioma Mata Atlântica, mas não capturam a realidade regional. Os remanescentes estão distribuídos de maneira muito desigual. Há regiões com menos de 10% de cobertura, seja de florestas maduras ou jovens. 

A literatura aponta que o limiar mínimo para a conservação das florestas do bioma é 30% de cobertura na paisagem, independente do seu estado de conservação. Isto pode levar a uma falsa impressão de que a conservação da Mata Atlântica está avançada e em uma rota segura, mas a literatura mais recente aponta a seguinte situação: a área total das florestas do bioma segue estável, com a perda de florestas maduras e jovens, incluindo parte das que estão em regeneração. A distribuição dos fragmentos e da regeneração é desigual, com regiões com baixa cobertura de florestas. Como resultado, as florestas seguem em rota de alta ameaça, com o aumento do isolamento e degradação dos seus fragmentos mais importantes. A situação das florestas do bioma é de risco e não está em uma rota segura de conservação.

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