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26 de July de 2021
Curiosidade:
Mittermeier sempre teve muito interesse em descobrir e descrever novas espécies. Ele descreveu 21 novas espécies – três tartarugas, seis lêmures, quatro társios (os menores primatas do mundo) e sete macacos. E tem oito espécies nomeadas em sua homenagem – três sapos, um lagarto, dois lêmures, uma formiga e um macaco saki.
E o senhor foi aprendendo o português nessas visitas ao país? Pois você fala muito bem nossa língua... RM: Quando eu vim pela primeira vez, cheguei em Manaus e fomos até Belém, descemos com ônibus até Brasília e Rio, nessa época por estrada de terra, e fui aprendendo. Você tem que aprender, né? Se você fala espanhol você aprende rápido. A coisa mais difícil para mim no início foi entender o que as pessoas estavam falando. Mas lendo era mais fácil. Então, num mês eu aprendi. E depois fui numa expedição na Amazônia em 1973, fiquei quatro meses só com brasileiros amazonenses lá. Depois disso passei a falar melhor. E além do espanhol, inglês e português, tem mais línguas que fala? Francês, alemão, sranan tongo, a língua creole do Suriname, e ainda estou aprendendo outras. Nessas expedições e visitas todas, que locais da Mata Atlântica mais te marcaram? RM: Olha eu considero especialmente duas áreas privadas. A mata do Feliciano, em Caratinga (MG), que tem a população mais importante de muriqui-do-norte. E que, graças ao trabalho da cientista americana Karen Strier, está celebrando 39 anos de pesquisa contínua. Karen ganhou o prêmio Muriqui em reconhecimento e tem feito um trabalho incrível. Ela formou mais de 80 especialistas brasileiros, não trouxe pesquisadores de fora, trabalhou com os cientistas brasileiros e fez um trabalho fantástico. Então, dessa fazenda eu gostei demais. E outra área que teve uma história um pouco mais complicada é a [antiga] fazenda Barreiro Rico [hoje fazenda Bacury], aqui no interior de São Paulo, que foi propriedade de José Carlos Magalhães, uma pessoa maravilhosa que protegeu essa mata durante décadas, que continua existindo e ainda tem população de muriqui e seis espécies diferentes de macacos. Mas estamos vendo como podemos garantir que isso continua. A família continua protegendo a mata, mas não tem a mesma presença de pesquisa que tivemos em Caratinga. Em Caratinga, que citou, existe a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Feliciano Miguel Abdala, que é considerada uma área prioritária para a proteção da biodiversidade da Mata Atlântica. Isso é um exemplo do grande papel das áreas privadas, pois 80% do que restou dessa floresta está em propriedades privadas. RM: Sim. E o que eu vejo do futuro, nós estamos vendo a importância de reservas com suas comunidades do entorno. Por exemplo, em Madagascar, elas muitas vezes são as mais eficientes. E também eu vejo muito a importância de ecoturismo. Eu acho que grande parte desses países que têm um alto número de espécies, o ecoturismo pode gerar muitos recursos e, se bem feito, uma boa parte dos recursos fica para as comunidades. E isso para mim é essencial. A Costa Rica nesse caso do ecoturismo seria um exemplo? RM: A Costa Rica é fantástica. Estão ganhando bilhões de dólares com isso. E eles chegaram a ter 25%, só 25% de cobertura florestal, mas agora tem 50% mais ou menos. Ou seja, eles tiveram uma visão muito boa e realmente estão olhando para o futuro. Mas é quase o único da América Central. Panamá agora está melhor também. Mas os outros países da América Central são desastrosos nesse sentido.Saiba mais sobre a Re:wild
Lançada em 2021, a Re:wild (anteriormente Global Wildlife Conservation) trabalha para proteger a biodiversidade nos lugares mais insubstituíveis do planeta. Com Leonardo DiCaprio como membro do conselho fundador, a organização atua para preservar e restaurar a natureza em sua forma mais selvagem como a principal solução para a tripla ameaça das mudanças climáticas, extinção em massa e pandemias. Para isso, engaja mais de 400 parceiros locais, incluindo povos e comunidades indígenas, em mais de 50 países ao redor do mundo.
A pandemia do novo coronavírus também impactou as áreas importantes para a biodiversidade?
RM: Olha, a pior coisa foi a queda do ecoturismo. Só em Madasgascar tivemos que apoiar com US$ 400 mil até agora as comunidades ao redor das nossas áreas prioritárias. Então é muito complicado. E a falta das viagens, nesse período, como tem sido? Está com saudades de avião? RM: Eu viajo geralmente 80% do tempo e desde março do ano passado eu fiz somente quatro viagens nos Estados Unidos e uma para Galápagos agora. Em março e essa agora para o Brasil e só. Mas estou doido para voltar. Eu trabalho muito no Suriname também. E em Madagascar, mas o país ainda está fechado. Por falar em doença, com tantas viagens a campo, já passou por muitos sustos? RM: Trabalhando em mata tropical você está sempre enfrentando doenças tropicais, como malária, dengue. Tive dengue duas vezes. Leptospirose. Vários parasitas, umas 30 e poucas vezes. Recentemente peguei um barbeiro horrível, voltei com 7. E tivemos que ir tirando. E picadas? RM: Até hoje não fui mordido por nada, felizmente. Nenhuma serpente venenosa. Mas até agora tiver sorte e minha família também. Meus filhos estão bem, eles também viajam muito. Meu filho, o segundo, viajou duas vezes para a Costa Rita e uma vez para Panamá sem vacina da covid. Mas agora ele está vacinado. Seus filhos seguiram seus passos na área ambiental e científica? RM: O primeiro, John, é ornitologista e acaba de fazer doutorado em Oxford. O segundo, Michael, é botânico especialista em plantas aróides. Minha filha está na Universidade de Victoria, no Canadá. Agora ela virou cidadã canadense. Ela é americana, mexicana e canadense. Então, dois dos três pelo menos estão na área, no trabalho de conservação. O senhor deixa um legado com eles também. Por fim, a SOS Mata Atlântica está completando 35 anos de existência. Como foi a sua relação com a ONG ao longo desses anos? RM: Em primeiro lugar, parabéns por celebrar os 35 anos de vida e eu gostaria de especialmente reconhecer a grande visão dos fundadores de SOS Mata Atlântica, Roberto Klabin, Fábio Feldman, José Pedro de Oliveira Costa, Rodrigo Mesquita, Clayton Lino, entre outros. Realmente grandes figuras na conservação da biodiversidade no Brasil que criaram uma organização que está entre as mais bem sucedidas não só no Brasil, não só no continente sul-americano, como também no mundo inteiro. Então parabéns para todos que tiveram essa visão maravilhosa. Quando fui presidente da Conservação Internacional nós entregamos através da MacArthur Foundation uma das primeiras contribuições à SOS Mata Atlântica e eu acho que ajudou muito no início da organização, isso foi por volta dos anos 1990. Mas depois disso a SOS Mata Atlântica mostrou capacidade de fazer arrecadação de fundos que nenhuma outra ONG brasileira tem. Então, eu vejo a SOS Mata Atlântica não só um dos modelos para o Brasil, mas um dos modelos para o mundo tropical. É uma ONG que funciona bem, que tem muito sucesso e agora vocês estão celebrando 35 anos de vida e espero que eu possa continuar trabalhando com vocês pelos próximos 35 anos.