Evento na COP15 apresenta Mata Atlântica como um dos 10 territórios mais promissores para a restauração no planeta

14 de December de 2022

Por Marina Vieira, de Montreal O extenso trabalho que tem sido desenvolvido por centenas de organizações há pelo menos 30 anos em prol da recuperação da Mata Atlântica  foi reconhecido ontem, em Montreal, no Canadá, na 15ª Conferência das Partes (COP15) da Convenção de Diversidade Biológica da ONU, num dia inteiramente dedicado à temática de restauração. O bioma foi anunciado entre os dez primeiros ecossistemas referência pela Década da Restauração das Nações Unidas. “Isso aqui é apenas um pequeno reconhecimento de todo resultado e de todo impacto que a gente já atingiu e nos mostra que nos próximos anos, dentro da Década de Restauração das Nações Unidas, a gente tem todo potencial para escalonar, para falar de mais hectares, e para continuar um bom trabalho, com grandes resultados de impacto”, declara Taruhim Quadros, especialista em restauração da WWF Brasil e representante do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica e da aliança trinacional do Brasil, Argentina e Paraguai que foram reconhecidas ontem. [caption id="attachment_1090646040" align="aligncenter" width="225"] Taruhim Quadros - Foto: Marina Vieira
Taruhim recebeu o certificado da Mata Atlântica em nome das duas redes e apresentou, em uma das mesas realizadas no pavilhão das Convenções do Rio da COP15, o bioma que abriga 70% da população brasileira, mas que tem menos de 30% de cobertura florestal no território nacional. “A gente está falando de um bioma altamente degradado. Apenas proteger o que resta não será suficiente para proteger e conservar a biodiversidade tão rica que existe dentro da Mata Atlântica”, explica Taruhim. Para Luís Fernando Guedes Pinto, diretor executivo da Fundação SOS Mata Atlântica, que estava presente na COP15 para o anúncio das dez iniciativas de referência, as expectativas são altas. “Esperamos que a partir desse reconhecimento possamos canalizar mais recursos, mais parcerias, mais projetos e mais iniciativas para a restauração da Mata Atlântica acontecer em maior escala e maior velocidade, o que é essencial tanto para conservação da biodiversidade quanto para a mitigação e adaptação de mudanças climáticas e para a garantia de água e outros serviços ecossistêmicos essenciais para a população brasileira e para o planeta”, afirma. A necessidade de restaurar e conectar Na mesa de abertura do dia da restauração na COP15, Maria Helena Semedo, vice-diretora-geral da FAO, agência da ONU para alimentação e agricultura, fez a conexão da restauração com a produção de alimentos. “Nós restauramos para produzir. Restauramos terras degradadas em terras produtivas para que as pessoas não precisem sair de seus territórios por conta da fome”, defendeu ela citando exemplos de restauração produtiva, como as agroflorestas.
Foto: IISD/ENB - Kiara Worth
Parceira da FAO na Década da Restauração, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) também enviou uma representante do alto escalão para o evento. Doreen Robinson, que é a   do órgão, compartilhou a projeção de que 1 bilhão de hectares devem ser restaurados no mundo para que seja possível evitar um colapso ecossistêmico (estudo aqui). “E as dez primeiras flagships vão nos ensinar o caminho”, afirmou. Além do reconhecimento e da projeção mundial, a lista da ONU deve atrair novos recursos para as experiências de restauração premiadas. Representantes de instituições financeiras como o Banco Mundial e HSBC e de empresas como o da multinacional Salesforce presentes no painel de fechamento explicaram que existe interesse do capital privado de “investir na natureza”, mas muitas vezes isso não se concretiza por falta de projetos robustos, transparentes e que não apresentem riscos para os investidores. Como a nomeação das dez iniciativas passou por um longo processo de avaliação, feita por especialistas a convite da ONU, o capital privado pode usar a lista como referência e parâmetro para investimento em projetos de restauração. Restauração pelo mundo A Mata Atlântica está acompanhada por exemplos de recuperação de mangues, de rios, de altas montanhas e de regiões semiáridas no mundo. Conheça as 10 iniciativas premiadas pela Década da Restauração aqui!