Novo estudo mostra onde a Mata Atlântica se recupera e persiste

28 de October de 2025

As florestas da Mata Atlântica estão voltando a crescer – mas parte dessa recuperação não resiste. É o que aponta o novo estudo realizado pela Fundação SOS Mata Atlântica e pelo Centro de Ciência para o Desenvolvimento (CCD) Estratégia Mata Atlântica, com apoio de iCS, Fapesp, Ipê, Pacto pela Restauração da Mata Atlântica, The Nature Conservancy (TNC) e Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Governo do Estado de São Paulo. 

Entre 1993 e 2022, 4,9 milhões de hectares entraram em processo de regeneração, área maior que a do estado do Rio de Janeiro e equivalente a 16% da cobertura florestal atual do bioma. Desse total, em 3,8 milhões de hectares (78%) as florestas permanecem de pé (a chamada recuperação persistente), enquanto 1,1 milhão de hectares (22%) voltaram a ser desmatados (recuperação efêmera).

Para Luís Fernando Guedes Pinto, diretor executivo da SOS Mata Atlântica e coautor do estudo, os números expõem a contradição que hoje marca o bioma. “A Mata Atlântica mostra uma impressionante capacidade de regeneração natural, mesmo sob pressão, mas parte dessa floresta ainda volta a ser suprimida. Estamos ganhando e perdendo florestas ao mesmo tempo”, afirma.

Grande parte dessa regeneração ocorre em terras privadas e tem como protagonistas pequenos produtores rurais, responsáveis por 45% da área total recuperada. Em muitos casos, de maneira natural ou por meio de plantios, a vegetação volta a crescer nas bordas das lavouras, nas margens dos rios e nas encostas íngremes, onde o uso agrícola é limitado. “É nas pequenas propriedades que a regeneração tem mostrado maior força e persistência, com papel essencial na recuperação de nascentes, na reconexão dos fragmentos florestais da Mata Atlântica e na retenção de carbono”, ressalta o diretor.

Além da recuperação de cobertura vegetal, esse processo contribui de maneira significativa para o equilíbrio climático. O estudo estima que as florestas regeneradas acumularam 98 milhões de toneladas de carbono entre 1993 e 2022. Por outro lado, as áreas desmatadas após o processo de regeneração resultaram na emissão de 22 milhões de toneladas, anulando parte dos ganhos ambientais. 

Minas, Paraná e São Paulo lideram regeneração

Os estados de Minas Gerais e Paraná lideram tanto a regeneração persistente, com mais de 900 mil hectares cada, quanto a efêmera, com 263 mil hectares e 192 mil hectares, respectivamente – mas são esses também os estados que mais desmatam. Em seguida, destacam-se São Paulo (479 mil ha), Santa Catarina (362 mil ha), Rio Grande do Sul e Bahia. No caso da regeneração efêmera, após Minas e Paraná, sobressaem Rio Grande do Sul (144 mil ha), Santa Catarina, Bahia, São Paulo e Espírito Santo.

O estudo mostra que São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo já apresentam um saldo positivo de cobertura nativa: a área de floresta que volta a crescer supera a que ainda se perde. Esse fenômeno, conhecido como transição florestal, indica que, nas regiões onde o desmatamento diminuiu e a proteção se consolidou, a floresta está voltando a ocupar espaço. “São estados que já atravessaram a fase mais crítica de destruição e agora vivem um ciclo de recuperação líquida. É um sinal de que, quando a pressão diminui e as políticas de proteção se mantêm, a floresta responde” explica Jean-Paul Metzger, pesquisador do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo e também coautor do estudo.

Exemplo de retomada da vegetação por meio de restauração florestal, feita na sede da Fundação SOS Mata Atlântica, em Itu (SP).

Embora o avanço da regeneração revele a resiliência da Mata Atlântica, os números evidenciam que a floresta que ressurge ainda pode ser perdida caso não haja políticas que garantam sua permanência. Para isso, os pesquisadores propõem uma combinação entre fiscalização efetiva e estímulos financeiros – priorizando pequenos imóveis rurais e terras de baixa aptidão agrícola, onde o custo de oportunidade é menor e o impacto ambiental é maior. Entre as medidas sugeridas estão o fortalecimento do Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento da Mata Atlântica (PPCDMA), do Planaveg, a ampliação de programas de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA). Além disso, como boa parte da regeneração se dá em Reservas Legais, há a urgência da implementação da Lei de Proteção da Vegetação Nativa (também conhecida como Novo Código Florestal).

Aliada tanto do clima quanto da economia rural, a regeneração florestal é uma agenda de que toda a sociedade só tem a se beneficiar. Se conseguirmos consolidar esse processo, combinado à restauração e a políticas eficazes de incentivo, a Mata Atlântica pode se tornar uma referência internacional em recuperação de ecossistemas. O estudo mostra que já temos uma base relevante de florestas voltando naturalmente, mas cabe a nós garantir que cresçam, permaneçam e inspirem outros biomas do país e do mundo”, conclui Metzger.

O estudo “Onde a floresta retorna e persiste: a recuperação da Mata Atlântica começa nas pequenas propriedades” será lançado em 28 de outubro, às 14h30, em transmissão ao vivo no YouTube e Facebook da Fundação SOS Mata Atlântica, dentro da série Mata Atlântica em Debate. O evento contará com a presença de André Lima, secretário extraordinário de Controle do Desmatamento e Ordenamento Ambiental Territorial do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, e Roberta del Giudice, diretora de Florestas e Políticas Públicas da BVRio e membro do Conaveg.

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