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05 de December de 2025
Tradução do texto original: Sustainable Prosperity: Luís Fernando Guedes Pinto on Building Alliances to Restore the Atlantic Forest | RF
As florestas tropicais são os pulmões do planeta, absorvendo 7,6 bilhões de toneladas de carbono da atmosfera todos os anos e devolvendo oxigênio. Seus ecossistemas complexos sustentam milhões de espécies e são vitais para os meios de subsistência e as necessidades econômicas de pessoas e comunidades — ainda assim, estão sob ameaça. Nos últimos 50 anos, quase um terço das áreas de floresta tropical ao redor do mundo foi destruído.
A Mata Atlântica brasileira é uma das florestas tropicais mais ameaçadas do mundo. Ela ocupa mais de um milhão de quilômetros quadrados (ou 129,5 milhões de hectares) e é considerada um dos locais mais biodiversos do planeta. A região abriga a grande maioria da população do país e mais de 70% de seu produto interno bruto. Mas a expansão agrícola, a pecuária, o crescimento urbano e outros fatores eliminaram grande parte da floresta, colocando em risco a saúde econômica do Brasil e de seu povo, o ecossistema da região e o nosso ambiente global.
O Dr. Luís Fernando Guedes Pinto — diretor executivo da ONG brasileira de conservação SOS Mata Atlântica e residente em 2024 no Bellagio Center da Fundação Rockefeller — acredita que a Mata Atlântica pode e deve ser restaurada. Fazer isso criaria um futuro mais sustentável e próspero para o Brasil, e as lições deste processo poderiam apoiar a restauração de florestas tropicais em todas as partes do mundo. O Dr. Pinto percebeu que nenhuma organização ou setor conseguiria alcançar isso sozinho. Durante sua residência, ele desenvolveu um modelo de restauração da floresta que uniu parceiros públicos, privados e do terceiro setor para proteger e regenerar esse recurso vital. Um ano depois, ele e a equipe da SOS Mata Atlântica já colocaram o modelo em prática, estabelecendo 10 programas-piloto, construindo parcerias e envolvendo nove empresas nesse trabalho. Em 5 de novembro de 2025, realizaram um lançamento oficial em São Paulo com a presença de diversos líderes governamentais, empresariais e ambientais.
Conversamos com o Dr. Pinto sobre por que a Mata Atlântica é uma região tão crítica para a restauração, o poder das parcerias intersetoriais, como esse trabalho pode criar um modelo para a restauração de outras florestas e como sua residência no Bellagio Center ajudou a transformar esse plano em realidade.
Por que é importante proteger e restaurar a Mata Atlântica?
A Mata Atlântica é um ícone e um símbolo do Brasil. Até o nome “Brasil” vem de uma árvore encontrada na floresta. A Mata Atlântica também é onde estão nossas maiores cidades e algumas de nossas empresas mais importantes, onde 70% do PIB do país e metade dos nossos alimentos são produzidos.
Mas é também onde ocorrem a maioria de nossas tragédias ambientais. A Mata Atlântica é o segundo maior hotspot de biodiversidade do planeta, lar de um grande número de espécies endêmicas que estão ameaçadas. Gerações de desmatamento destruíram mais de 75% da cobertura original da floresta. Essa região enfrenta uma série de crises ambientais e hídricas. Sem conservação e restauração em grande escala, os sistemas, economias, cidades e indústrias que dependem dessa região podem entrar em colapso.
Se conseguirmos deter e reverter a destruição da Mata Atlântica, isso terá um impacto positivo na economia, na ecologia e no futuro do Brasil. E os benefícios não se limitam ao país. A restauração ajudaria a enfrentar as crises globais de clima e biodiversidade, capturando mais CO₂ da atmosfera e salvando incontáveis espécies da extinção. Estou convencido de que as soluções que estamos criando e as parcerias que as impulsionam podem servir de referência para ajudar o mundo a alcançar o desmatamento zero nas florestas tropicais.
Quais têm sido os maiores desafios no combate ao desmatamento na Mata Atlântica?
A grande maioria do desmatamento vem da agricultura — áreas de cultivo, pastagens para pecuária, esse tipo de coisa. Em seguida, vem a expansão da infraestrutura urbana, especialmente para apoiar o turismo. A mineração ocorre em pequena escala, mas ainda é significativa.
Um grande desafio é fazer as pessoas entenderem que proteger a natureza é essencial para o seu cotidiano. As pessoas não percebem o quanto dependem do meio ambiente para sua saúde, água e energia. Nossa destruição da natureza é um bumerangue que está voltando para destruir nossa economia.
Também precisamos enfrentar a tensão econômica. A região da Mata Atlântica produz a maior parte do PIB do Brasil, mas muitas vezes é mais lucrativo, no curto prazo, derrubar a floresta para abrir áreas de pasto, plantações e outros usos agrícolas. Para contrapor isso, precisamos de incentivos econômicos claros para proteger e restaurar florestas. É possível ter boa produtividade agrícola e, ao mesmo tempo, proteger a floresta, mas os retornos são menores. Precisamos criar mais formas de as pessoas ganharem dinheiro ajudando a natureza.
Estamos lançando um projeto de restauração ambicioso, de longo prazo, em grande escala e baseado em ciência, para preservar e recuperar uma das regiões mais ameaçadas da Mata Atlântica. Em 10 anos, a SOS Mata Atlântica vai plantar mais de 10 mil hectares de floresta. Também estamos trabalhando para criar ao menos 20 reservas privadas, onde poderemos adicionar mais de mil hectares de novas áreas protegidas, e estamos atuando para criar mais duas unidades de conservação públicas.
É impossível trabalhar sozinho. A colaboração é fundamental, e cada setor traz conhecimentos diferentes. Para ter sucesso, precisamos reunir todos e aproveitar suas forças únicas.
No setor privado, construímos uma aliança de empresas que estão investindo em nosso trabalho. O primeiro grupo já está a bordo, incluindo a Heineken e a Salesforce, as empresas brasileiras Motiva, INA e IPÊ, entre outras. A Heineken acaba de se comprometer a apoiar nosso programa de educação ambiental pelos próximos cinco anos.
O setor público também é crucial. Trabalhamos amplamente com unidades de conservação públicas que fazem parte do Ministério do Meio Ambiente. Como instituição, participamos de instâncias de governança desde o nível municipal até o federal. Temos assento em um conselho nacional de biodiversidade que assessora o governo em políticas de conservação, participamos de comitês regionais de bacias hidrográficas e teremos um assento no grupo de trabalho municipal sobre meio ambiente de uma cidade.
Qual impacto você espera alcançar?
Esse trabalho está plantando a semente para uma solução às crises globais de biodiversidade e clima. Escolhemos um dos lugares mais difíceis do mundo para realizar esse trabalho. Temos grandes cidades, com infraestrutura complexa, e um alto custo da terra. A destruição já ocorreu em escala massiva. Mas, se formos bem-sucedidos na Mata Atlântica — e precisamos ser — a restauração de florestas tropicais pode dar certo em qualquer lugar. E o que aprendermos será extremamente útil para tornar isso possível.
Nossa visão é transformar uma região à beira do colapso em um futuro saudável e próspero. Um futuro com mais água, mais biodiversidade e mais vida. Um futuro onde nosso ecossistema sustenta nossa economia. Não queremos transformar a Mata Atlântica em uma região exclusivamente florestal. Queremos sistemas produtivos agrícolas e florestais, uma economia das árvores. As parcerias que estamos construindo são essenciais para concretizar esse futuro.
Como sua experiência em Bellagio influenciou seu trabalho?
Durante o processo de seleção, você entende que aquilo é importante, mas só percebe de fato quando chega ao Bellagio Center. Você olha ao redor e percebe que todos estão ali porque têm ideias inovadoras que podem gerar grandes transformações. A energia e a inspiração criadas por isso são poderosas.
Ter a oportunidade de passar um mês isolado da minha rotina, podendo desenvolver e organizar os fundamentos desse trabalho — desde um discurso de 30 segundos até um documento de 30 páginas — foi inestimável. E poder testar minhas ideias com outros residentes foi extremamente útil. A beleza do lugar e a energia das pessoas são mágicas. E as amizades que você faz ali são para a vida toda.
O Bellagio Center é para sempre para mim. Sempre será parte de quem eu sou. Os presentes que ele deu a mim, ao meu trabalho e à minha organização nunca vão terminar.
Uma semente não pode criar raízes sozinha. Para crescer e prosperar, ela precisa de solo fértil, muitos nutrientes e um clima estável. O Dr. Pinto vê seu trabalho de forma semelhante, criando as parcerias e condições necessárias para cultivar um futuro sustentável e próspero para a região da Mata Atlântica. “É provável que esta seja a primeira floresta tropical do mundo onde vamos reverter o desmatamento nessa escala”, disse ele. “Temos as parcerias, a governança, o capital e as soluções para transformar uma trajetória de colapso em algo bem-sucedido.”
Crédito da foto de capa: Angeles Estrada Vigil.