Apoie nossas
causas
Se mantenha informado de nossas ações
08 de September de 2022
Luis Fernando participa de painel na Conferência do Clima de 2021 (COP26), em Glasgow, Reino Unido.
Marcia no viveiro de mudas nativas na sede da SOS Mata Atlântica.
Luis Fernando na solenidade Viva a Mata de 2022. Foto: Léo Barrilari/SOSMA.
Como vocês analisam a relação da adaptação climática com a Mata Atlântica?
LF A Mata Atlântica tem tudo para ser uma referência global de adaptação para o mundo, porque toda a região vai sofrer dramaticamente com a emergência climática. Estamos falando da mata do Oceano Atlântico. São milhares de quilômetros que vão sofrer com as mudanças do oceano, e isso vai impactar muita gente. Desde as pessoas que vivem no Recife e no Rio de Janeiro, até as populações tradicionais, pescadores, que dependem do oceano para viver. O clima já está em transformação. A questão é o quanto a gente pode diminuir e atenuar essas transformações enquanto nos adaptamos a elas. Isso está posto, os dados do IPCC são muito claros. Mas nós reunimos condições para nos adaptar, para exigir políticas públicas, investimentos públicos e privados para a adaptação. E isso pode ser visto como oportunidade. Podemos usar nosso conhecimento e a natureza para construir um futuro para as nossas cidades.
Já temos um certo acúmulo de iniciativas de adaptação, mas precisamos multiplicar isso. Precisamos ter mais Mata Atlântica nas cidades, no entorno das cidades, fazer essa conexão com as nossas vidas. Não faz mais sentido essa visão de que a cidade está em um lugar e a natureza está em outro. Isso falhou. Essa visão de que a natureza e as cidades e as pessoas precisam ser uma coisa só está óbvia, e agora a gente precisa de soluções para rever planos diretores e políticas públicas, reconstruir e redesenhar as nossas cidades, o nosso litoral.
Isso vai exigir muito investimento, mas é uma situação que alguns economistas apontam que pode ser um ganha-ganha. Muitos estudos apontam que não fazer nada é ainda pior. E não é só um prejuízo econômico e de perder infraestrutura e negócios, mas pode levar a perda de vidas. Essa agenda de adaptação para o bioma é essencial, e pode ser solução para trazer qualidade de vida, para evitar desastres e criar oportunidades, criar empregos, gerar renda e termos um futuro próspero. Virar as costas para a adaptação é comprometer o nosso futuro.
MH E o papel dos governantes das cidades é fundamental. Nós temos uma legislação ambiental bem robusta, só que todo mundo olha a legislação ambiental como algo que mira apenas a conservação e a proteção da natureza. E a legislação existe também para dar segurança às pessoas. O Código Florestal também é para isso, pois aponta que não se pode habitar em beira de rio, não se pode habitar em encostas ou topo de morro, porque são locais de risco. Então essa questão que o Luis Fernando colocou, de planejar a cidade, definir para onde ela vai crescer, onde preservar as florestas, inclusive em áreas urbanas, onde as pessoas podem morar com esse olhar para o contexto da adaptação climática será fundamental para todas as cidades. Nós já temos alguns exemplos de municípios que têm planos de adaptação climática, como Santos, Rio de Janeiro e Salvador. O papel das autoridades, principalmente municipais e estaduais, é bem importante para que a gente possa reduzir, minimizar todos esses riscos e ameaças.
LF Em todo esse processo global da emergência climática que vivemos hoje está muito bem documentado que as populações mais pobres e vulneráveis são as que vão sofrer primeiro, e mais. A pandemia da Covid-19 e a emergência climática estão escancarando a desigualdade e o impacto dessa desigualdade na nossa sociedade. Se nós, enquanto Fundação e sociedade, não encararmos a questão da desigualdade, tomando como premissa fundamental que as soluções têm que ser para todos, tanto a SOS Mata Atlântica quanto o mundo vão falhar em superar esses desafios. A Fundação tem uma missão muito clara e um escopo de trabalho muito bem definido, que vamos manter como essência. Mas a gente tem que fazer essas conexões. Precisamos de verde nas cidades, nas áreas urbanas e nas periferias. Precisamos tirar as pessoas vulneráveis das áreas de risco. Não podemos ter pessoas morrendo de calor em comunidades que não têm água tratada. Tudo isso tem que ser tratado de maneira combinada.
- Estamos de novo em um ano decisivo, vamos eleger presidente, governadores, deputados e senadores. O que esperar e cobrar desses candidatos em relação a todas essas questões que estamos falando aqui no prisma da Mata Atlântica?
MH Estamos em um ano importante em que realmente a mudança vai ter que acontecer. A SOS Mata Atlântica trabalha desde 1989 com plataformas ambientais. Começamos com presidenciáveis e em várias eleições nós construímos propostas para agendas socioambientais aos candidatos e candidatas. Já fizemos mobilização voltada para o cidadão eleitor, com os candidatos, sempre no sentido de levar a questão ambiental como uma agenda estratégica. Vote pelo meio ambiente, Vote pela Mata Atlântica, foram muitas campanhas e mobilizações. Porque nós precisamos ter governantes e bancadas parlamentares comprometidos com a causa.
Neste ano lançamos o documento Retomar o Desenvolvimento, destinado às próximas gestões dos poderes executivos e legislativos federal e estaduais, com propostas urgentes relacionadas à conservação do meio ambiente e à mitigação da emergência climática. Precisamos ter cada vez mais um Congresso Nacional e Assembleias Estaduais com parlamentares comprometidos com o meio ambiente e com a Mata Atlântica. Queremos que eles reconheçam essas agendas e incluam os temas nos seus programas e prioridades. Precisamos fazer com que isso se amplie nos 17 estados abrangidos pelo bioma, nas Assembleias Legislativas e nos espaços da vereança. Isso é uma prioridade para nós.
LF Temos que cobrar coerência e compromisso com uma agenda socioambiental democrática. A democracia é uma coisa da qual a SOS Mata Atlântica não abre mão, é um valor fundamental e básico para qualquer outra coisa funcionar. Mas, além disso, a gente tem uma pauta específica para os governantes, com uma agenda propositiva. Isso fica muito claro no nosso documento de propostas, precisamos reverter os retrocessos. Precisamos também de muitas parcerias e articulações. É fundamental a atuação das organizações locais, de outros parceiros, que zelam por uma agenda estadual e municipal. A SOS Mata Atlântica não consegue e nem pretende alcançar todos os lugares, mas sim inspirar a sociedade nessa direção. Estaremos, em 2023, cobrando coerência e uma agenda positiva, esperando que essa mudança, que é urgente, emergente e essencial, realmente aconteça.