Yara Novelli: uma lendária poesia que vem do mar

14 de December de 2020

[caption id="attachment_1090643473" align="alignleft" width="207"] Arquivo Pessoal/ Revista FAPESP
Antes mesmo de andar em terra, ela estava no mar. Nascida no Rio de Janeiro, é neta de cientista – seu avô alemão era bioquímico e farmacêutico e veio para o Brasil no início dos anos 1900 a convite do Governo de Minas Gerais. Seu pai, também alemão, foi químico e, talvez por ser um apaixonado pelo mar, se mudou para o Rio, onde a filha passou grande parte de sua vida. Estudiosos, o avô e o pai adoravam contar suas histórias para Yara. Uma ironia em sua vida, é que a única certeza que tinha quando fez faculdade, era que “nunca seria professora“. Sorte de seus alunos que podem contar com seus conhecimentos nestes mais de 50 anos de legado. “A vida me levou à docência. Desde então, virei professora, com muita honra. Aposentei em 1998 e continuo dando aulas até hoje“, afirmou ela. Neste mês, apresentamos uma entrevista especial para encerrar 2020 com uma das principais e mais respeitadas especialistas brasileiras em questões marinhas, Yara Schaeffer-Novelli, professora sênior do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP) desde 1998 e sócia-fundadora do Instituto Bioma Brasil. Conhecida e chamada por amigos e admiradores como professora Yara, ela carrega um vasto currículo recheado de experiências e títulos acadêmicos. É bacharel e licenciada em História Natural pela Universidade do Brasil (1965), mestre em Oceanografia Biológica pela USP (1970), e doutora em Ciências: Zoologia pela mesma universidade (1976).
Revista FAPESP: Em curso de mergulho durante a graduação em História Natural na Universidade do Brasil, RJ
Nesta conversa, falamos com Yara sobre a importância dos ecossistemas marinhos e como as características da Zona Costeira do Brasil – considerada Patrimônio Nacional pela Constituição Federal – são fundamentais para a garantia e proteção da vida, principalmente daqueles que vivem nas regiões costeiras.

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Poesia e ciência

Para ela, antes dos ecólogos desbravarem a natureza, quem apresentava diversas características dos ambientes marinhos e sua relação com a terra eram os poetas. Até uma lenda que leva o seu nome, diferindo apenas a primeira letra, pode ser um exemplo. “Iara nos rios da Amazônia. Ou os relatos de Alexandre, o Grande, ao descrever em 325 a.C. as árvores crescendo em água salgada no Indo-Pacífico“. Com opinião contundente, ela acredita que as degradações que a humanidade vem fazendo contra os ambientes costeiros e marinhos, e as ações do atual governo federal, podem gerar impactos diretos na vida da sociedade, especialmente frente às mudanças climáticas. “Se perdermos nossas barreiras naturais, como recifes, praias, restingas e manguezais, podemos não encontrar alternativas fabricadas pelo homem que sejam tão eficientes para a proteção da zona costeira“, afirma. Para a professora, os retrocessos existentes são fruto de ganância, desrespeito à vida e falta de olhar de longo prazo dos tomadores de decisão. “Basta botar o horizonte um palmo adiante do nariz, não é muito. Ver imobiliárias comandando um “sinistro” de meio ambiente para que ele faça esse tipo de coisa, é um problema psicológico.“

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Veja abaixo a entrevista completa.

Professora, primeiramente, poderia contar para a gente um pouco da sua história? Principalmente o que a levou a trabalhar nesta área de oceanografia?

[caption id="attachment_1090643474" align="alignright" width="206"] Revista FAPESP: Em 1966 com a bióloga Junia Quitete, em curso no Navio Oceanográfico Alte. Saldanha, da Marinha